Teia Mental
Chamamos de teia mental aquele emaranhado de meias verdades que aceitamos como inequívocas e as quais reproduzimos em nossas ações na vida, muitas vezes sem grande reflexão e também sem a percepção da gravidade dessa atitude na nossa felicidade real.
Nos deixamos levar pela facilidade, pelo pronto e acabado, por aquilo que não nos acarreta de fato muito trabalho mental, como se verdades alheias, algumas até dogmáticas, fossem um grande achado. Se forem antigas então, aí é que se tornam inquestionáveis mesmo.
Tanto do ponto de vista religioso como da psicologia, por exemplo, costumamos ouvir coisas como esta:
“Mas o fulano, tão sábio e santo, falou isso. Foi há tanto tempo e todos ainda concordam”.
Todos? É mesmo? Todos quem?
Sabemos que em cada parte do planeta vigora um messias diferente, uma pedagogia diferente, costumes diferentes. Aquele que é famoso ou endeusado por lá pode não representar nada aqui. O que é correto e usual por lá pode ser assustador por aqui. Mas o ser humano gosta, como se diz, de enfiar goela abaixo dos outros suas crenças. Somos todos vendedores de teias.
Pseudoverdades
O tempo costuma construir pseudoverdades. Quatro, cinco ou sabe-se lá quantas décadas, ou até séculos, não são argumentos válidos para transformar uma proposta no norte de nossas vidas se não a passarmos pelo crivo de nossa razão própria e pessoal. Até porque esse tempo está ficando cada vez mais curto, pois em cada esquina encontramos um grupo ou um novo pregador cheio de novas ideias. E, além disso, as redes sociais se encarregam de levar longe e rápido todo tipo de proposta, seja ela política, religiosa, filosófica, milagreira, educacional, entre outras coisas. Enfim, temos de tudo e para todos os gostos. Só esquecemos mesmo de escolher com mais atenção o que é realmente bom e adequado para nós neste exato momento de nossas vidas. No hoje. Dessa forma vamos simplesmente reproduzindo coisas que captamos aqui e ali no ontem.
Dentro destas verdadeiras amarras mentais tomamos palavras alheias de saber como fossem absolutas e, a partir daí criamos, quase que inconscientemente, defesas particulares das propostas escolhidas. E nelas nos encastelamos quietos ou agitados, dependendo do que nos é mandado fazer. Sem pensar muito e o que é pior, sem sentir a emoção verdadeira que nos envolve.
Política e religião
Nos movimentos políticos, por vezes, nos deixamos levar pelos gritos de ordem e indignação. E como não sabemos muito bem o que fazer sentimos raiva. Ora, isso não pode ser bom. Sentimentos negativos nunca são bons, na medida que eles não nos permitem transformar nossa indignação frente ao errado numa ação positiva perene e construtiva. Não percebemos que o que nasce pela raiva, por ela perecerá. Basta olharmos para as revoluções socialistas que permearam o último século, entre outros eventos.
No aspecto religioso, por outro lado, estas teias se colocam acima das críticas, pois o que supostamente está ungido pela fé, não se pode avaliar. Sabemos que todas as propostas religiosas se propõem, cedo ou tarde, ao objetivo final de apresentar e fazer acontecer Deus no espírito humano. Porém, existem situações que, obviamente, não mais contemplam aspectos religiosos; algumas se tornaram pura manipulação, onde nem mais se sabe sua origem, seus preceitos, quem é o manipulado e quem é o manipulador.
As formas de compreender a divindade deveriam ser livre escolha de cada mente. Mas não é o que acontece muitas vezes.
Construir a própria fé
O difícil é construir a própria fé, baseada na razão, sem cair na tentação da comodidade de um Deus apenas para aliviar as dores ou satisfazer os desejos, sejam eles materiais ou intelectuais.
Também é difícil abandonar as palavras supostamente ditas por santos ou sábios. O ideal é ter fé quando as palavras forem acolhidas pela alma e não pelo ego, isto é, pelas necessidades. Se, por exemplo, precisamos de algo como prosperidade ou um novo relacionamento, corremos para aquele templo onde isto nos é prometido. Não paramos um minuto para pensar em coisas como merecimento ou necessidade real de que isso aconteça para nossa felicidade e muito menos no duvidoso poder dos intermediários do tal Deus.
Quando acreditamos em tais coisas estamos próximos de cair nas teias alheias de falsa sabedoria ou bondade. Não vamos a lugar nenhum.
Pense por um instante:
“Se eu não precisasse desta verdade, se ela não me fosse útil de alguma maneira, eu acreditaria? ”
“Se minhas dores não fossem aliviadas, eu acreditaria? ”
“Se eu não pudesse satisfazer meu ego ou meu orgulho ou ainda minha vaidade intelectual com esta verdade, eu acreditaria? ”
Se responder com sinceridade conseguirá se afastar de prisões emocionais nas quais muitos ficamos enredados por vidas inteiras.
Não tenha receio de duvidar, pois se o que você tem hoje não for o que realmente acredita, breve encontrará uma verdade melhor. Nossas vidas são um incessante buscar. Não vamos desperdiçá-la com lindos discursos que simplesmente nos tiram de nossa estrada. Não se acomode.
Nos vários setores da vida se afaste dos que querem lhe convencer de algo pelo medo. Ou por eventuais recompensas de coisas que você anseia. Coisas como paz, relacionamentos, saúde, prosperidade ou outras vantagens, etc. Podem estar lhe levando para suas teias. Use seu bom senso e não acredite em milagres ou facilidades.
Não é porque muitos pensam de uma maneira que você precisa pensar igual. Preste atenção em suas emoções e saberá distinguir o falso do verdadeiro. Não vá pelo grupo só porque é um grupo, pois perderá seu discernimento. Tome um tempo para descobrir quem é você e o que é seu. Aí você saberá o que realmente é bom para você.