Continuando com a terceira parte deste projeto da busca de caminhos para a verdadeira felicidade e depois de termos discutido sobre nossas personalidades, temperamentos, defeitos, além das armadilhas de nossas mentes, vamos enumerar algumas patologias que nos afligem e tornam nosso dia a dia, muitas vezes, uma experiência miserável.
Hoje discutiremos a depressão.
Que dor misteriosa é essa?
Afinal, por que algumas pessoas parecem imunes e outras tão propensas a sofrer desta doença invisível?
As razões estão nas suas origens, o que nos remete às diversas formas, aos diversos padrões de comportamento do ser humano. Cada um de nós tem um jeito peculiar de reagir às vicissitudes e contrariedades da vida.
Aqueles mais irritadiços e inconformados com os aborrecimentos do dia a dia, tendem a formar o grupo mais propenso a se tornar depressivo, pois tem um limiar de frustração muito baixo.
Passam rapidamente pelos dois primeiros estágios da doença: da frustração para a irritação, estacionando no estágio seguinte que é, justamente, a tristeza.
São pessoas com uma tendência alta de criar expectativas, as quais, naturalmente, nunca serão completamente atendidas pelo mundo; ao se sentirem então incompreendidas ou abandonadas, se inicia o processo lento e insidioso da depressão sem que percebam as fases iniciais. Só se dão conta quando chegam ao estágio final, o da tristeza. Sofrem porque se recusam, inconscientemente, a viver num mundo que não está nem aí para seu modo de pensar ou fazer as coisas.
Estão tão acostumadas com a irritação, que além dela lhes parecer legítima, passa quase desapercebida em seu cotidiano. Porém, legítima ou não, ela é devastadora.
Tristezas verdadeiras X tristezas da alma
Existe uma grande confusão entre as dores do mundo e as dores da alma.
Pode-se observar dois tipos de tristezas:
– Uma que poderíamos chamar de verdadeira, vinda de fora de nós, das perdas sem solução como a morte, das doenças físicas graves, das famílias disfuncionais, das separações, das partidas, das guerras ou de outros graves problemas sociais, por exemplo. Esta tristeza contagia a todos.
– E uma outra chamada de tristeza da alma, oriunda de nós mesmos, de nossas dificuldades de lidar com os aborrecimentos menores da vida. A este tipo de tristeza dá-se o nome de depressão. Esta tristeza, com o tempo, irrita quem está em volta, o que torna mais fácil sua identificação.
Depressão, a doença dos novos tempos
Por ser tão mal compreendida, a depressão se alastra como uma epidemia silenciosa no alvorecer deste novo século. Está se tornando tão comum que ao ser mencionada, dispensa outras explicações. Mas, ao mesmo tempo, o que causa estranheza, quase ninguém sabe do que se trata, pois a apartam da personalidade do indivíduo, creditando ao excesso de trabalho ou às disfunções bioquímicas, por exemplo, suas origens.
E nestes tempos modernos, cada vez mais o homem é exigido em severas disputas, por tudo, fazendo-o viver quase que num modo de sobrevivência, o que, naturalmente, gera mais e mais frustrações.
E como o mundo, de uma forma geral, só qualifica as tristezas chamadas de verdadeiras, lançasse o depressivo para um limbo solitário e doloroso.
E como então resolver essa dor chamada de depressão?
Alguns passos são necessários:
– Perceber os estágios anteriores ao seu aparecimento, o que somente será possível com uma conscientização, isto é, quando a pessoa se dispuser a prestar atenção em si mesma, em sua história, para notar as irritações frequentes.
– Admitir que os motivos não estão relacionados a nenhuma tragédia.
– Observar no dia a dia que não gosta mesmo de ser contrariado.
– Abandonar a posição de vítima, como seria de fato, caso a tristeza fosse verdadeira.
– E, finalmente, estar disposto a abrir mão desse padrão de comportamento em prol de sua própria felicidade; isto é, aceitar que nem tudo pode ser do nosso jeito.
Conclusão
Não se deve esperar que o mundo resolva nossa depressão, isto é, que a cura venha de fora para dentro. Os remédios apenas nos anestesiam para as coisas que não gostamos. Jamais nos curarão. Nos dão um alivio passageiro enquanto pensamos e tomamos decisões. Somente se identificarmos quem somos de fato, isto é, qual é o nosso jeito de lidar com os aborrecimentos da vida, poderemos despertar e abandonar os padrões que nos arrastam para esse mundo de dor, de incompreensão e de solidão.