As redes sociais

Voltando ao tema das redes sociais, pois não há como fugir ou negar ser esta a principal mídia da atualidade, se faz necessário discutir nossas andanças por elas.
Com mais de 2 bilhões de seres conectados nessa teia, que não apenas parece governar o mundo, mas ditar os costumes a serem seguidos, o cuidado precisa ser redobrado.
Todavia, distraídos e desatentos, navegamos por um mar de informações, colhendo aqui e ali punhados generosos de notícias, plataformas políticas, esoterismos de todos os tipos, curas extraordinárias, métodos infalíveis para iluminação de nossas almas aflitas, entre milhares de outras propostas.
Desta forma terminamos por partilhar muitos dos anseios de desconhecidos, nossos “amigos”, aquelas centenas de usuários, cuja quantidade exibida em nossa página muito nos orgulha.
“Tenho 2.645 amigos. E você? ” _ gostamos de perguntar estufando o peito.
A pergunta geralmente é dirigida àquelas pessoas que são amigos de carne e osso; aqueles que, ao menos, podemos olhar nos olhos, mas que, por vezes, nos parecem por demais pacatos, reservados ou indiferentes. Aqueles chatos que não entram, ou caem, na onda das novidades sem refletir. Não fazem eco com o que não conhecem de fato.
Você tem mesmo 2.645 amigos?
Pois então meus parabéns! Você deve ser o único ser humano no planeta que tem intimidade com 2.645 pessoas, a ponto de achar que são suas amigas e estão, minimamente, interessadas em sua felicidade. Sim, porque não é para isso que servem os amigos de verdade?

Todo mundo tem algo a dizer

O grande problema é que todos têm algo a dizer, mas poucos selecionam o que postam nas redes sociais. O motivo é nossa velha conhecida: a tal “Voz do Coração”. Lembra-se? Aquela que está tão na moda seguir, supostamente composta de sensibilidade e profundidade ímpar. Aquela que, infelizmente, retrata fielmente nosso mundo interior, com todas as nossas virtudes, mas também com todos nossos defeitos e condicionamentos.
Desta maneira, por um lado, nós temos a irresponsabilidade de muitos milagreiros de plantão que, conscientemente ou não, postam textos baseados em suas meias verdades pessoais. Muitos desses posts não passam de falas sem reflexão ou até mesmo manipuladoras.
E, do outro lado, estão os ávidos consumidores de milagres rápidos, aqueles que, de preferência, não demandem grandes esforços.
E nos fartamos até enlouquecer com os “faça isso”, “pense aquilo”, “pratique aquilo outro”, “aprenda tal coisa”, “reze esta oração poderosa”, “este é o caminho da iluminação”, “coma aquele alimento milagroso”, etc.
Em datas especiais, também devidamente manipuladas pela mídia ou pelo comércio, entre outras fontes, quando as pessoas estão ainda mais fragilizadas, multiplicam-se os milhares de conselhos nas redes sociais para a solução deste ou daquele problema. Muitos apenas oportunistas. Acabamos por nos perder nesse turbilhão de caminhos oferecidos.

Soluções mágicas

No fundo, todos procuramos soluções onde não seja preciso fazer nada ou quase nada. Pequenos milagres, sejam eles revestidos de uma aura esotérica, científica ou religiosa. Não importa muito. Procuramos soluções para coisas prosaicas, como uma infalível forma de emagrecer; não demora muito para sermos então bombardeados com dietas da lua, dos pontos, das gorduras, dos carboidratos, disto ou daquilo e terminamos não sabendo mais qual a melhor; e também para dores e dúvidas menos prosaicas, como aflições pessoais, filhos rebeldes, depressões, casamentos conturbados ou a busca de uma iluminação espiritual, por exemplo.
As pessoas confundem informação com solução. Até porque não sabem do que realmente precisam, na medida que não identificam a origem real de suas dores ou necessidades.
Se o indivíduo se dispuser a descobrir de fato quem é, isto é, olhar para dentro de si mesmo sem o olhar míope de um orgulho que não pode ser ferido, deixaria de ver apenas suas virtudes e poderia quem sabe admitir seus defeitos e suas tendências menos lisonjeiras. A partir daí saberia o que realmente necessita para ser mais feliz e descartaria os milagres passageiros; daí seria apenas um passo para fazer escolhas corretas, passando pelo crivo da razão todas as promessas e informações que chegam às suas mãos. Deixaria de perder tempo, de criar falsas expectativas, de esperar a felicidade prometida que um dia vai chegar e passaria a viver o aqui e o agora de forma mais plena, consciente, resolvendo os próprios problemas com mais sabedoria, sem arranjar culpados e sem acreditar em soluções mágicas.

Resumo:

– preferimos fingir que acreditamos nas bobagens das redes sociais, como, por exemplo, nas centenas ou milhares de amizades virtuais que conquistamos

– não selecionamos as informações porque procuramos soluções que não deem trabalho, pois nem sempre estamos dispostos a nos modificar para resolver as coisas

– não passamos pelo crivo da razão as falsas promessas porque, na maior parte das vezes, não sabemos de fato quem somos e, como consequência, do que precisamos

 

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