Nós, os chatos
Você já se deu conta do tempo que perde reclamando da vida, das coisas ou das pessoas com as quais convive, por opção ou obrigação?
É incrível como somos chatos e mimados. Queremos que tudo seja e aconteça de acordo com as nossas expectativas. É quase como a velha história de preparar a festa, se lambuzar com o bolo e limpar o salão sozinho. E tudo para não ter que ouvir sugestões de onde ficaria melhor pendurar os balões coloridos, é claro.
Quando o outro chega a festa já acabou porque você ainda não aprendeu que festa é algo que fazemos quando queremos comemorar em grupo. Pouca coisa quando consideramos que sequer lembrou de seus convidados.
“Quem?” _ você perguntaria tomado de genuína surpresa.
Não temos o hábito de olhar para a vida dos outros seres que nos rodeiam. Muitos miseráveis ou desvalidos da sorte. E mesmo quando não o são, simplesmente fingimos não ver ou apenas ignoramos os problemas cotidianos das outras pessoas, pois nosso foco nunca corre para muito longe de nosso próprio umbigo.
É como se o mundo fora de nós não existisse. Ou existisse apenas para nos dizer “sim”.
Mas, como o mundo existe, nesse meio tempo reclamamos de tudo. Desde o carteiro que demorou a chegar, passando pela chatice de ter que preparar o café da manhã para o marido e indo até a acalorada discussão para decidir qual cor do arco-íris é a mais bonita.

Os felizes da Terra
Na medida que parecemos não nos dar conta de nada disso, também não nos damos conta do quanto somos felizes, especialmente se nos compararmos ao resto do mundo.
Um mundo onde quase metade dos habitantes não têm liberdade para expressar ideias ou credos; um mundo onde bilhões sequer sabem ler ou sofrem de insegurança alimentar; um mundo onde outros tantos bilhões vivem sob tetos precários ou sob a ameaça de guerras ensandecidas.
Parece que nada mais fazemos que chorar de barriga cheia, pois, sem dúvida, somos os felizes da Terra.

Uma humanidade alienada
Outro dia uma pessoa que conhecemos nos falou que estava indo para a África. E ela foi.
Quando contamos para alguns amigos a maioria nos olhou como se estivéssemos dizendo que ela tinha ido para Marte.
“África?” _ olhares estupefatos por todos os lados.
“Fazer o que naquele fim de mundo?” _ olhares agora incrédulos ou desdenhosos.
Sim, ela foi numa missão humanitária.
De fato, a maioria de nós não move um dedo para ajudar ninguém que não esteja classificado como ente querido. Isso quando o faz. De boa vontade então, é quase um milagre.
Ninguém sai de casa para ir ali na esquina servir uma instituição de qualquer natureza. África é simplesmente impensável. Calor, pobreza extrema, doenças, mosquitos, crianças carentes implorando por um instante de sua atenção. Um horror do qual queremos mais é nos afastar.
Mas, quando percebemos que as pessoas têm preguiça até de compartilhar um post de utilidade pública do Facebook, dois cliques apenas, o que podemos esperar?

E então, você estava reclamando do que mesmo?
De que lado você pretende passar sua vida?
Se queixando de tudo do lado de dentro do lindo aquário colorido onde se escondem os pobres de espírito ou do lado de fora, para onde se lançam com alegria na aventura da vida aquela gente que faz as coisas acontecerem?
E você nem precisaria ir para tão longe, não é mesmo? Ali na esquina tem gente precisando. Mas, se nem isso for possível, que tal um pensamento, uma disponibilização de esperança, uma oração, quem sabe. O amor desinteressado move o universo.
Gostaríamos de nomear nossa amiga, a da África, mas os verdadeiros heróis gostam de ser anônimos. Eles apenas servem e passam, como disse Babajiananda.

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