Felicidade X liberdade
Caminhamos nesta série de posts, até aqui, em busca da felicidade. Percorremos duros caminhos tentando desvendar o extraordinário mistério de quem somos de fato, numa tentativa de arrancar a confortável venda que nos cobre a visão interior.
Mas, se buscamos a felicidade, por que razão falamos em libertação?
Por liberdade os dicionários dizem das características da pessoa que não se submete ou então ser ela uma aptidão particular do indivíduo de escolher (de modo completamente autônomo), expressando os distintos aspectos da sua essência ou de sua natureza.
Como pode se ver a tal liberdade pode conduzir-nos pelas mais diversas trajetórias, pois nossas escolhas podem desaguar tanto na dor quanto na felicidade. Como almas livres que somos, viemos através dos tempos decidindo as estradas que percorreríamos, inventando atalhos aqui e ali, na construção incessante de nossas personalidades.
Somos responsáveis por nossas dificuldades
Então, o que somos hoje, o que passamos ou sentimos hoje, é fruto de uma longa trajetória, cuja responsabilidade, tanto do sofrimento como da paz interior, é só nossa. Se eventualmente alguém acreditar numa sucessão de vidas, terá tido todo tipo de oportunidades e, se não acreditar, bastará olhar para suas atitudes, para seu temperamento, nesta vida mesmo.
É natural do ser a busca por essa liberdade e, desde seu primeiro suspiro, ele procura as armas que usará para defende-la. Pode ser o amor, mas também pode ser algum de seus muitos defeitos. Sofrerá e causará sofrimento.
Mas então, se a liberdade pode também conduzir-nos a aflições, por que a buscamos?
Liberdade X verdade
Quem decifrou de forma brilhante esse mistério foi Tolstoi, escritor russo, autor do famoso livro “Guerra e paz”, que definiu desta maneira:
“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência. ”
Seja qual for o objetivo com o qual a palavra for proferida, ela será sempre consequência dessa busca pela verdade.
Como alcançar a felicidade
Quando falamos então de felicidade, aquela que nos liberta das dores, do passado, das manipulações e condicionamentos, percebemos que só a alcançaremos se descobrirmos, em primeiro lugar, quem somos de fato; qual a verdade que se esconde por trás de nosso verniz social.
Só a alcançaremos quando pararmos de arranjar mil e uma desculpas para os defeitos que permeiam nossa personalidade, como nossa tendência a olhar apenas para nosso umbigo, nosso descaso com a dor alheia, nossa falta absoluta de compaixão com as dores do mundo, nosso inabalável delírio de que somos melhores que os outros, nossa permanente irritação com as contrariedades e assim por diante.
Isto é, quando tirarmos a tal venda dos olhos, aquela que nos protege de admitirmos quem somos de fato. Quando conseguirmos entender que precisamos ser mais brandos, humildes, compassivos, tolerantes, etc.
Em segundo lugar, quando pudermos transformar esse entendimento numa ação efetiva, isto é, quando nos arrancarmos da zona de conforto na qual nos refugiamos e da qual, de longe, damos uma espiadela desinteressada no que acontece lá fora.
Esperamos, placidamente, que a felicidade venha bater à nossa porta, sem que tenhamos de nos despir de nossas fantasias, sem que tenhamos que fazer nenhum sacrifício, etc. e tal.
Vivemos no mundo da lua
Doce ilusão, pois liberdade é sinônimo de permissão, iniciativa e movimento. E, além disso, para melhor ou para pior, a verdade sempre prevalecerá.
Para atingirmos nosso objetivo de libertação precisamos então aprender a decifrar esse incrível mistério que é a nossa personalidade, nosso ego, nosso ser, ou seja lá o nome que se queira dar a esse conjunto de manias, hábitos, ações e comportamentos que se traduzem pelo nosso temperamento, isto é, pela forma com a qual lidamos com o universo que nos cerca.
Ações para libertação
Na 3ª. parte desta série vamos disponibilizar, nos próximos posts, maneiras de conseguirmos visualizar melhor esse mosaico aparentemente confuso e com muitas peças soltas e parecidas. Peças essas que já foram descritas nos posts anteriores.
Na verdade, aprender a colocar cada peça em seu devido lugar, dispensando aquelas que não servem para mais nada no aqui e agora, como o egoísmo ou o orgulho, por exemplo, substituindo-as por outras mais eficientes na pavimentação do caminho da felicidade verdadeira, como a compaixão ou a tolerância, não é tarefa impossível desde que haja a vontade da modificação própria.