E a intolerância continua
Então você está muito ocupado tomando conta das suas coisas e da sua vida? Que ótimo. Mas só isso?
Nestes dias agitados que o planeta atravessa, observamos estarrecidos guerras que não terminam nunca. Populações inteiras sendo massacradas por uns poucos que desejam perpetuar-se no poder glamoroso da champanhe tomada no meio do caos. Ou então para a efêmera afirmação de domínio dentro de um jogo político, além de outros interesses, como o equívoco sobre a disputa de um modelo religioso correto. De tudo um pouco.
Pessoas são submetidas a flagelos intermináveis e de todos os tipos, dependendo apenas da loucura e do sadismo do estrategista de plantão.
Notícias chegam a todo momento sobre os genocídios e os terríveis crimes de guerra que vão ceifando a vida de centenas de pessoas inocentes, sem poupar ninguém.
O que estamos fazendo para ajudar a minorar esse sofrimento?
A resposta para a maioria de nós costuma ser simples: absolutamente nada.
Nos estressamos e chegamos a chorar com as fortes imagens que chegam do Oriente Médio. Lamentamos e divulgamos nossa indignação nas redes sociais. E só.
Há até mesmo quem se recuse a ver as imagens, preferindo enterrar a cabeça na areia e fingir que nada de tão grave está acontecendo.
E por que?
Porque isso nos incomoda. Nos obriga a pensar, a avaliar nossas responsabilidades e, possivelmente, quem somos enquanto raça humana.
Voltamos para o já batido assunto de nossa imobilidade emocional. Na verdade, nossa preguiça, indiferença, apatia, egoísmo, ou seja lá o nome que se queira dar a esse nada fazer. No máximo, no extremo de nosso interesse por essa humanidade longínqua que achamos não fazer parte de nós ou na qual pensamos não estar inseridos de maneira alguma, fazemos um esforço supremo e rezamos. Aquela rezinha rápida que não passa mesmo do teto, pois, com honrosas exceções, geralmente trata-se daquele velho petitório para que os deuses façam algo que minore o sofrimento daquela gente.
Afinal, a obrigação é deles, não?
Não. A obrigação é nossa.
Nossas cansativas obrigações enquanto seres humanos
Neste momento em que, obviamente, não basta mais pedirmos a ajuda dos céus, nossa responsabilidade aumenta a cada dia. Não basta mais querermos disponibilizar através de nossos pensamentos a magia do amor, da generosidade, da resignação e da sabedoria.
Até porque para fazer isso precisamos estar acostumados, digamos, a usar essas coisas nas nossas vidas cotidianas. Precisamos implementar em nós mesmos as modificações que nos possibilitem transitar com mais facilidade por esses caminhos. Se não compreendemos e tomamos para nós o amor desinteressado, ou a compaixão, por exemplo, jamais saberemos lidar com isso.
Precisamos ser mais eficientes e além disso, não esquecer de ensinar as pessoas sobre as possibilidades desse auxílio à distância, sem tempo e espaço a nos deter. Somos capazes de promover verdadeiros milagres.
Fazer e ensinar, em vez de apenas delegar aos guias e outros avatares essa empreitada. Tão rápida, simples e eficaz. Encontrarmos o amor em nós, por exemplo, e disponibiliza-lo ao universo, direcionando-o para as zonas de conflito. Até porque seria bastante ingenuidade nossa, dentro de nossas crenças, achar que um santo ou um guia, por exemplo, não sabe qual é sua tarefa, sendo necessário que a indiquemos para ele.
O dia de hoje
Como já dissemos em outras oportunidades, tudo o que temos é o dia de hoje. O ontem já passou e o amanhã ainda não existe. Só temos o instante presente para voltarmos um olhar honesto para dentro de nós mesmos e descobrirmos o que precisa ser mudado. A partir daí poderemos fazer as modificações necessárias que nos habilitarão, não só a sermos mais felizes, mas a deixarmos de ser um peso morto no universo.
Se considerarmos que aquela gente tão sofrida do outro lado do mundo são mais que nossos irmãos, que são parte de nós, o que nos faz sermos apenas um, como poderemos não dedicar um momento de nosso precioso tempo para seu auxílio?
Aquela velha história de ficarmos felizes com nossas lindas e saudáveis mãos enquanto nossos pés estão repletos de feridas. Como isso é possível?
Amor de segunda categoria
O ser tem grande dificuldade de adentrar as questões dolorosas que julga não lhe dizerem respeito diretamente. Dá uma passada de olhos e pode até conceder um minuto de sua atenção; está, geralmente, muito ocupado tratando das suas coisas, muitas vezes inúteis.
Termina por fazer pouca ou nenhuma ação para fora de si em socorro de quem quer que seja, se enganando ao achar que ter uma religião ou saber das coisas fraternas é suficiente. Confunde informação com sabedoria e dificilmente passa para a ação. Não aprende o que é a verdadeira compaixão.
Outro dia um famoso pregador falou algo que parece engraçado, mas que é extremamente triste: somos pessoas mais ou menos.
Até quando vamos amar mais ou menos?
Vamos começar a fazer nossa parte todos os dias, a cada momento daquilo que chamamos o dia de hoje, ou vamos continuar, de forma insensível e alienada, apenas a tomar conta de nossas pequenas vidas?