Felicidade X vontade
Nos últimos posts publicados disponibilizamos maneiras de se conseguir visualizar melhor este tabuleiro confuso, cheio de peças soltas, que compõe o jogo de nosso mundo interior. Peças essas que já foram descritas nos posts anteriores e que fazem parte daquilo que as pessoas chamam do nevoeiro mental. Um lugar místico que nos aprisiona num labirinto sem saída. Um jogo onde sempre perdemos.
Porque, como em todo nevoeiro, nossa visão é turva, o que nos faz andar inseguros e vacilantes, claudicando e tropeçando a cada passo. Numa palavra: sofrendo. Sofremos e causamos sofrimentos aos outros nesse estranho mundo emocional que criamos para nós mesmos.
Na verdade, aprender a identificar e colocar cada peça em seu devido lugar, dispensando aquelas que não servem para mais nada no aqui e agora, como o egoísmo ou o orgulho, por exemplo, substituindo-as por outras mais eficientes na estratégia para a felicidade verdadeira, como a compaixão ou a tolerância, não é tarefa impossível desde que haja vontade de modificação própria.

Felicidade X liberdade
Caminhamos nesta série de posts em busca da felicidade. Percorremos duros caminhos tentando desvendar o extraordinário mistério de quem somos de fato, numa tentativa de arrancar a confortável venda que nos cobre a visão interior.
Mas, se buscamos a felicidade, por que razão falamos em libertação?
Por liberdade os dicionários dizem das características da pessoa que não se submete; a liberdade seria a aptidão particular do indivíduo de escolher (de modo completamente autônomo) e de expressar os distintos aspectos da sua essência ou de sua natureza.
Como se pode ver a tal liberdade pode conduzir-nos pelos mais diversos caminhos, pois nossas escolhas podem desaguar tanto na dor quanto na felicidade. E como almas, aparentemente, livres que somos, viemos através dos tempos decidindo as estradas que percorreríamos, inventando atalhos aqui e ali, na construção incessante de nossas personalidades. E, por engano, construindo cárceres privados para essa mesma alma.

Felicidade X responsabilidade
Então, o que somos hoje, o que passamos ou sentimos hoje, é fruto de uma longa trajetória, cuja responsabilidade, tanto do sofrimento como da paz interior, é só nossa. Se você acredita na sucessão de vidas, terá que considerar uma coleção de erros e acertos que edificaram seu nível de felicidade atual e, se não acredita, bastará olhar para suas atitudes, para seu temperamento, para as bobagens, ou não, que fez nesta vida mesmo.
É natural do ser a busca por essa pretensa liberdade e, desde seu primeiro suspiro, ele procura as armas que usará para defender seu direito de agir como gosta. Pode ser o amor, mas também pode ser algum de seus muitos defeitos. Usará os recursos que lhe são inerentes. Aí, ou sofrerá e causará sofrimento, ou terá a paz tão almejada.
Mas então, se a liberdade pode também conduzir-nos a aflições, por que a buscamos tanto e de forma tão atabalhoada?

Felicidade X verdade
Quem decifrou de forma brilhante o mistério da libertação foi Tolstoi, escritor russo, autor do famoso livro “Guerra e paz”, que definiu desta maneira:
“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.”
Seja qual for o objetivo com o qual a palavra for proferida, ela será sempre consequência dessa busca pela verdade.
Em outras palavras: sofremos porque buscamos uma liberdade errada.

Felicidade X honestidade
Quando falamos então de felicidade, aquela que pode nos libertar realmente das dores, do passado, das manipulações e condicionamentos, percebemos que só a alcançaremos se descobrirmos quem somos de fato e o que se esconde por trás de nosso verniz social.
Só a alcançaremos quando pararmos de arranjar mil e uma desculpas para os defeitos que permeiam nossa personalidade, como nossa tendência a olhar apenas para nosso umbigo, nosso descaso com o sofrimento alheio, nossa falta absoluta de compaixão com as dores do mundo, nosso inabalável delírio de que somos melhores que os outros, nossa permanente irritação com as contrariedades e assim por diante.
Isto é, quando conseguirmos sair do nevoeiro mental que deturpa nossa visão e nos protege de admitirmos quem somos de fato. E também, por consequência, conseguirmos entender que precisamos ser mais brandos, humildes, compassivos, tolerantes, etc.
E, finalmente, quando pudermos transformar esse entendimento numa ação efetiva, isto é, quando nos arrancarmos da zona de conforto na qual nos refugiamos e da qual, de longe, damos uma espiadela desinteressada no que acontece lá fora.

Felicidade X ação
Esperamos, placidamente, que a felicidade venha bater à nossa porta, sem que tenhamos de nos despir de nossas fantasias, sem que tenhamos que fazer nenhum sacrifício ou modificação.
Doce ilusão, pois liberdade é sinônimo de permissão, iniciativa e movimento. E, além disso, para melhor ou para pior, a verdade sempre prevalecerá.
Se quisermos libertar nossa alma e quebrar os grilhões que nós mesmos colocamos em nome daquilo que achávamos ser a verdadeira liberdade, precisamos aprender a decifrar esse incrível mistério que é a nossa personalidade, nosso ego, nosso ser, ou seja lá o nome que se queira dar a esse conjunto de manias, hábitos, sentimentos e comportamentos que se traduzem por nossas ações no mundo. E, no jogo da vida, a melhor estratégia passa sempre pela observação da forma com a qual lidamos com o universo que nos cerca. Só assim sairemos vencedores.
Nos próximos posts, entrando na terceira parte desta série, estaremos sugerindo mais formas práticas de fazer isso.

Resumo:
– no jogo da vida, nessa corrida confusa atrás do que se chama felicidade, vários aspectos precisam ser considerados. O ser precisará:

  1. ter vontade efetiva para promover as modificações necessárias
  2. perceber que a liberdade da qual se faz questão não passa de um engano
  3. admitir a própria responsabilidade no sofrimento e na dor
  4. entender que a verdadeira busca da vida deveria ser atrás da verdade
  5. desenvolver a honestidade que o fará enxergar quem é realmente
  6. sair da zona de conforto, pois somente a ação trará a felicidade

 

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