Felicidade condicionada
O motivo, muitas vezes, reside no fato de que costumamos criar expectativas. Temos por hábito jogar para a frente no tempo nossa felicidade. Nossos pensamentos giram entre coisas do tipo:
“Só vou ser feliz se …”
“Só vou ser feliz quando …”
Criamos roteiros de vida que não dependem só de nós.
Esperança
Muitas pessoas têm dificuldade em compreender a diferença entre esperança e expectativa. Na primeira existe um componente emocional positivo. Ela nos faz considerar o outro, o mundo, nos ensinando a amar de forma fraterna. Fazemos nossa parte de maneira plena e amamos no hoje, aproveitando o momento presente.
“Tenho esperança que aquela guerra termine. Estou disponibilizando paz e sabedoria para aquela gente. ”
“Tenho esperança que sua doença melhore. Estou vibrando muito para que seu organismo consiga reagir. ”
“Tenho esperança que possa sempre cuidar bem dos meus filhos. Estou sempre atrás de um trabalho cada vez melhor. ”
“Tenho esperança que se meu filho continuar a estudar bastante vai passar no vestibular. Estou sempre incentivando. ”
Como se percebe, esperança é base para motivação. Faz você viver no agora, no presente.
Expectativa
Na expectativa, ao contrário, sempre esperamos que algo ou alguém faça por nós. Estamos sempre aguardando, de forma passiva, o que nos lança para a uma posição de espera, o que chega a ser irracional, na medida que não podemos controlar o futuro. Ele ainda não existe. E também não somos fraternos, pois além de não fazermos nossa parte, a ajuda teria que vir da maneira e ao tempo que achamos melhor.
“Tomara que o santo tal (ou o guia tal) faça minha filha casar logo. Não aguento mais esses choramingos. ”
“Espero que meu chefe perceba que preciso de um aumento. Que droga. Ele quer o que? ”
“Quero que essa droga de governo saia logo para que eu possa viver melhor. ”
“Eu e meu marido há anos só brigamos; sei que sou teimosa, mas ele é tão chato. Mesmo assim não quero que ele saia de casa. ”
E como se nota, expectativa é base de frustração. Faz você viver num futuro improvável.
A zona de conforto
Todas essas frases poderiam ser modificadas se a pessoa saísse de sua zona de conforto e, por exemplo, procurasse verificar quais as modificações necessárias, no presente, que poderiam contribuir para a resolução dos problemas. Especialmente em si mesma.
A expectativa, apesar de tudo, não deixa de ser confortável, pois costuma nos lançar à posição de vítimas. Aquela vítima que pode estruturar seu tempo à vontade em cima de queixas e lamentações, especialmente as que refletem um mundo insensível que nada faz para ajudá-la ou consola-la. Quanto mais prepotentes somos, mais expectativas vamos criando e nos tornando, por consequência, também egoístas, na medida que passamos a pensar apenas em nós mesmos.
E assim vamos perdendo oportunidades de conquistar a felicidade no hoje, o que poderia acontecer através de uma análise menos míope da realidade e de nossas possibilidades verdadeiras de intervir no universo, o que também nos possibilitaria aprendermos, eventualmente, a desenvolver a resignação, pois nem tudo, obviamente, é do jeito que gostaríamos que fosse.
Mesmo quando saímos da inércia e damos passos direcionadas é preciso atenção para verificar a aparente utilidade de nossas ações, pois podemos construir uma fábrica de cimento e gerar empregos, mas despejar os dejetos no rio. De que isso adianta? Mesmo quando temos motivação ela não pode ser egoísta.
Portas erradas
Toda ação precisa ser fruto de discernimento e não de uma fixação ou condicionamento. E o pior é que vamos passando para as outras pessoas de nosso grupo familiar ou social os caminhos, maneiras e crenças de se criar expectativas. Uma verdadeira escola de passividade fervorosa.
Passamos a vida adiando a felicidade, pois perdemos tempo construindo saídas que não têm chaves e que dificilmente se abrirão. Até quando vamos insistir e ficar, dia após dia, tentando abrir as portas erradas?
Quando você perceber que está sofrendo com aquela ideia recorrente, aquele pensamento que não sai de sua cabeça, tenha certeza que está batendo na porta errada.
E parafraseando antiga teoria terapêutica, lembre-se que você não está neste mundo para atender as expectativas dos outros, mas em compensação, ninguém também está aqui para atender as suas.
Resumo:
– estamos sempre condicionando nossa felicidade a alguma coisa que deve acontecer no futuro; na época e do jeito que sonhamos; e, além do mais, todos devem colaborar para que ela aconteça
– confundimos esperança com expectativa; a esperança permite que aproveitemos as oportunidades do dia de hoje; a expectativa nos lança para um futuro desconhecido e incerto
– passamos a vida batendo em portas fechadas, cujas chaves, infelizmente, não sabemos onde estão; passamos a depender que algo ou alguém as abra para nós