Verdades relativas

Conseguimos ver e compreender apenas uma pequena fração da realidade. Isto ocorre, ocorreu e sempre ocorrerá na humanidade. No passado vimos tantos lutarem e acreditarem em verdades absolutas. Em tempos posteriores essas mesmas verdades viriam a ser consideradas meros pensamentos bizarros de uma época atrasada.
O curioso é que sempre criticamos o passado, mas nunca nossas verdades de hoje que, inevitavelmente, também serão tidas como bizarras no futuro.
O homem, que está sempre em busca de verdades, acaba agarrando fortemente aquela que lhe parece mais conveniente no momento. Sem cuidado ou humildade.
Nossas verdades são sempre relativas devido ao nosso limitado processo de pensamento, assim como às limitadas possibilidades que partem de uma visão única. Todavia, nos agarramos a elas como se fossem verdadeiras boias salva-vidas, pois é sempre cômodo dizer que tal ou qual verdade está correta e que com ela pautaremos nosso modo de agir.
Parece correto do ponto de vista da ação, pois se esperarmos uma verdade absoluta, busca que parece ser eterna, nunca agiremos, pois estaremos sempre apenas buscando. Devemos nos assegurar que vivemos de acordo com os princípios que acreditamos, mas conscientes que isto é apenas uma estratégia de ação e não o fim.

Discernimento sem um leque de opções?

O problema é que muitos agarram verdades como se fossem absolutas, como se fossem o fim em si mesmo, isto é, o término da busca e criam para si e para os que influenciam, uma única luz a ser seguida. Um único direcionamento.
Este fenômeno ocorre em todos os segmentos, dos científicos aos religiosos, levando a um falso desfecho de discernimento. Como podemos falar em discernimento se apenas uma única possibilidade é colocada em questão?
Agarrados então nesta verdade limitada e momentânea, criamos uma série de teorias e modelos para justificá-la; pensamentos que permitam torná-la mais plausível, tanto para nós mesmos, como para os outros. Muitos sofisticam de tal maneira a proposta, que os que tentam compreendê-la acabam acreditando que deve ser mesmo uma verdade, pois estamos treinados a achar que coisas muito complexas e de difícil entendimento só podem estar corretas.

A simplicidade da mente humana

O caminho da realidade, entretanto, é sempre simples. Complexo e difícil é quebrar nossos condicionamentos para poder ver o mundo através de uma nova ótica de simplicidade.
Não sabemos quantas vezes ouvimos falar que a mente humana é um emaranhado impenetrável. Mas não é mesmo. Isso seria delegar nossas responsabilidades. E, como sempre, costumamos gostar dessa parte da vida.
Quando buscamos a verdade de nosso caminhar nos tornamos seres mais abertos para o mundo e, geralmente, vamos encontrando outros como nós; muitos deles dizem já ter encontrado o caminho da felicidade, que é o que, afinal das contas, todos procuramos. Aquela trilha mágica e já demarcada que nos levará com segurança até ela. E aí pensamos:
“Que maravilha! Ele encontrou. Vamos aproveitar esta sabedoria, esta verdade”.E assim, muitos vão se somando aos achados e verdades de terceiros. Eles satisfazem, principalmente, às mentes mais preguiçosas; aquelas que encontrando algo alheio, logo lhe abrem a porta e se deixam invadir, desde que esse algo seja belo e não dê muito trabalho. Pelo lado das religiões, por exemplo, encontramos coisas do tipo:
“Humm! Ir ao templo uma só vez por semana? Parece ótimo”.

Preguiça mental

Somos assim mesmo; temos preguiça de pensar. Poderíamos treinar o pensar, pois a preguiça mental só é eliminada pelo uso, pela eliminação da comodidade passageira.
Precisaríamos ativar, verdadeiramente, nossa capacidade de discernimento, começando por nossos próprios pensamentos, conhecimentos e verdades. O que não dizer do que vem de terceiros. Muitas vezes completos desconhecidos. Infelizmente isto exige atenção, treino e muitas vezes não estamos preparados. Ficamos como que hipnotizados por sabedorias relativas que adquirimos dos outros e agimos como robôs, vendo coisas óbvias e inquestionáveis onde muitos não as percebem.
Muitas vezes nos tornamos vaidosos de nossos conhecimentos, presos em nossa aparente e definitiva sabedoria.
Louvamos ou oramos, sentamos ou ajoelhamos, acendemos círios ou velas, tomamos banhos de ervas ou nos abençoamos com água benta. Meditamos ou escalamos montanhas para desfraldar nossas bandeirolas de agradecimento.
Afinal, do que se trata a vida e o viver quando tentamos dar um passo além?
Muitos passam toda a vida em verdadeiras teias mentais, nas amarras de dogmas ou propostas que reproduzem, dia após dia, sem saber muito bem a razão.
Não percebem que se saíssem, por um momento que fosse, de sua zona de conforto, poderiam encontrar suas próprias verdades e não aquelas que foram, de alguma forma, copiadas, sugeridas, impostas ou simplesmente aceitas sem qualquer reflexão. Talvez mais trabalhosas, mas com certeza, mais libertadoras.
Não importa o caminho que seguimos em direção ao que acreditamos ser a felicidade, desde que seja nosso e construído com discernimento.

Resumo:

– vivemos num mundo de fantasia pautados por verdades relativas e convenientes

– confundimos estratégias momentâneas de ação com a própria verdade pessoal que deveríamos construir

– temos preguiça de pensar e desta maneira nos acomodamos às verdades alheias, sem discernimento, bom senso ou avaliação que pudessem nos mostrar o caminho que nos traria mais felicidade

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